domingo, 25 de outubro de 2009

Chorei por ser poeta


             Ela fechou o portão do prédio e sai caminhando, eram 23:45 de uma terça feira apática morena e cheia de sentimentos cortados quase que na flor da minha pele, primeira coisa que pensei: o que porra estou fazendo em Boa Viagem a essa hora? depois o sentimento que sinto por ela me invade a razão e quase tudo faz sentido menos o beijo que não aconteceu no portão , passei em frente ao Laçador da Domingos Ferreira o cheiro do mar me lembra ela, comprei um cigarro num fiteiro e reclamo do preço cobrado 0,50 R$ um absurdo. Cruzei a Conselheiro Aguiar sentei na pracinha de Boa Viagem com a esperança de passar um onibus, um mendigo senta ao meu lado com um garrafa cheia de cola grudada na boca e me fala entre os dentes: -tá chorando malandragem? balanço a cabeça confirmando, ele insiste: chorando porque? olho aquele confidente tão inusitado ainda pensei em cortar a conversa por ali, mas as palavras saltaram da minha boca involuntariamente disse-lhe: estou chorando por ser poeta. ele da uma risada debochada como quem agarra no ar o entendimento da propria cena reluzindo em gás neon todo o fenômeno narrado nessa singela frase. Ele suga a garafa como quem traga a própria sabedoria e me diz: -sentimentos não são palavras no papel sentimento é a propria injúria, agora eu dou um sorriso não de entendimento, mas um sorriso irônico de quem desiste de entender incoerencias, ele bate no meu ombro levanta-se me olha de pé por cima, me sinto pequeno diante da sua figura estática na minha frente olhando pra baixo e me diz me dando as costas e se perdendo em meios as bancas da praça:- palavras não queima o papel, mas sentimento queima a alma bactéria, bacteria, bacteria, bacteria..., e foi repetindo até o silencio tomar de novo a avenida: bacteria, bacteria, bacteria, acendi o cigarro dei um trago forte soltei a fumaça lentamente e lembrei-me que ela disse que eu precisava escrever meus sentimento, agora digo que não, lutei contra a minha arte naquele momento caro leitor, na pungente incoerencia aleatoria dos meus sentimentos que afirmo ter e que ela sabe que tenho, não apaga o fato de que apenas sinto e o que sinto? certeza, que te quero e que os fatos não muda a essência do prisma em que te vejo límpida do outro lado a cantar aquela velha música falando do mar. preferia que meus sentimentos fossem demostrados ecoando pelo teu corpo salgado do mar, deslizando nos teu pelos prateados arrepiados como a lua que vimos vindo beijar a praia ou aquecendo-me com teu hálito quente que uma vez senti percorrer o meu corpo, mas voce prefere conhece-los assim trasfigurado em poesia então te entrego tudo que sinto numa folha de papel. CDU BOA VIAGEM CAXANGÁ ufa respiro aliviado contando as moedas do meu bolso.             

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