quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Ventilador


    Conhecer é ser, e digo é ter em seus braços e sentir os cabelos visitarem seus arrepios íntimos e mais puritanos. Por mais que aproxime meus sentimentos de um campo santo, ele fixa-se em mim como uma mentira pagã que gosto de escutar.
    Faço-o como quem ouve música e ve-se diante do próprio pensamento materializado em estupidez e fumaça. No amâgo frio da quentura desse quarto ainda desejo teu corpo molhado com a gélida percepção que é a tua instituição falando por ti que aceito por conveniência que enfeita esse pecaminoso sentimento.

domingo, 25 de outubro de 2009

Chorei por ser poeta


             Ela fechou o portão do prédio e sai caminhando, eram 23:45 de uma terça feira apática morena e cheia de sentimentos cortados quase que na flor da minha pele, primeira coisa que pensei: o que porra estou fazendo em Boa Viagem a essa hora? depois o sentimento que sinto por ela me invade a razão e quase tudo faz sentido menos o beijo que não aconteceu no portão , passei em frente ao Laçador da Domingos Ferreira o cheiro do mar me lembra ela, comprei um cigarro num fiteiro e reclamo do preço cobrado 0,50 R$ um absurdo. Cruzei a Conselheiro Aguiar sentei na pracinha de Boa Viagem com a esperança de passar um onibus, um mendigo senta ao meu lado com um garrafa cheia de cola grudada na boca e me fala entre os dentes: -tá chorando malandragem? balanço a cabeça confirmando, ele insiste: chorando porque? olho aquele confidente tão inusitado ainda pensei em cortar a conversa por ali, mas as palavras saltaram da minha boca involuntariamente disse-lhe: estou chorando por ser poeta. ele da uma risada debochada como quem agarra no ar o entendimento da propria cena reluzindo em gás neon todo o fenômeno narrado nessa singela frase. Ele suga a garafa como quem traga a própria sabedoria e me diz: -sentimentos não são palavras no papel sentimento é a propria injúria, agora eu dou um sorriso não de entendimento, mas um sorriso irônico de quem desiste de entender incoerencias, ele bate no meu ombro levanta-se me olha de pé por cima, me sinto pequeno diante da sua figura estática na minha frente olhando pra baixo e me diz me dando as costas e se perdendo em meios as bancas da praça:- palavras não queima o papel, mas sentimento queima a alma bactéria, bacteria, bacteria, bacteria..., e foi repetindo até o silencio tomar de novo a avenida: bacteria, bacteria, bacteria, acendi o cigarro dei um trago forte soltei a fumaça lentamente e lembrei-me que ela disse que eu precisava escrever meus sentimento, agora digo que não, lutei contra a minha arte naquele momento caro leitor, na pungente incoerencia aleatoria dos meus sentimentos que afirmo ter e que ela sabe que tenho, não apaga o fato de que apenas sinto e o que sinto? certeza, que te quero e que os fatos não muda a essência do prisma em que te vejo límpida do outro lado a cantar aquela velha música falando do mar. preferia que meus sentimentos fossem demostrados ecoando pelo teu corpo salgado do mar, deslizando nos teu pelos prateados arrepiados como a lua que vimos vindo beijar a praia ou aquecendo-me com teu hálito quente que uma vez senti percorrer o meu corpo, mas voce prefere conhece-los assim trasfigurado em poesia então te entrego tudo que sinto numa folha de papel. CDU BOA VIAGEM CAXANGÁ ufa respiro aliviado contando as moedas do meu bolso.             

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Um tributo a pureza

       Um dia perguntaram-me: "sabe aquelas noites de frio que o vento corta a pele como navalha e a sua garganta reclama de tanta serenidade onde o maior consolo é o bar e o vinho?" Respondi que não, as noites de recife são quentes e fedorentas, aquece meu corpo e embebeda meu espirito de velocidade. O cheiro branco enfileirado do espelho dos banheiros podres,  organiza como maestro os instrumentos da minha noite, minha garganta pigarreia e o valor que dou a matéria me embriaga.
      Sofro calado esperando a inercia dos movimentos circulares se confudirem no espaço e proseguirem aleatoriamente na minha mente nesse instante, me bate um embrulho uma ânsia de vômito, que calo empurrando com um gole de cerveja e penso ainda estou vivo pulsando me derretento junto com  o suor que cai do meu rosto, logo bravejo " calor do caralho".
       Sinto o cheiro do mar, o gosto da maresia e o perfume de uma bela morena a rodar nas ruas de pedras negras, tambem vejo o suor escorrer pelo seu corpo vejo tudo aquilo como um poeta que sente nojo da beleza permeada de cotidiano  de sua mãe ou da sua terra ou dos dois.
        Agora o ardor do gole de cachaça me faz pensar na dor de não participar do que é meu por direito chego ao meu climax íntimo agora lembrando do que me fala meu amigo Herman Hesse da beleza madura juvenil de se apropriar do mundo ao seu redor, ou melhor sentir-se o próprio mundo mesmo que afundado num bom Malbec. Ainda caminho louco caro leitor, ainda sou louco, louco por me afastar do que não penso e de ficar junto de minha reflexões transfiguradas em conclusões, o que digo é massante o ruminar mas quem conhece as noites quentes desse lugar sabe que é perigoso misturar-se.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Quem conta um ponto, escreve um conto....


 Tudo que tinha: um cigarro, um fosforo úmido partido ao meio e uma vontade incontrolavel de fumar. olhei fixamente para o fósforo, que parecia me esnobar, e entendi naquele frio gesto, que me roubava a minha generosa subserviência a tão singela existencia do próprio fósforo, como instrumento do alcance de um prazer tão pungente. Quase que me dizia:
-Serei pra ti fruto de frustração, não me acenderais e pemearei teu consciente existindo no inverso do meu propósito.
Pensei quase que alto "fósforo maldito". Risquei-o com foracidade, com uma hábil técnica infálivel alcançado pelos anos de nicotina acumuladoem meu alvéolos, soltou uma faisca simplória e teimou em não acender, Pensei agora em voz alta "fósforo maldito", quase ouvi risos saindo de sua pequena cabeça vermelha, aquele fósforo representaria pra mim uma maldição, uma incompreensão. Por que implicas comigo?  faz birra como criança que pede doce. Suspirei e engoli toda a minha raiva levantei o fósforo na altura do meu rosto e disse-lhe:
- Gato, por que fazes isso comigo? Existes para mim com essa finalidade, prefere terminar tua existência sem alcançar teu próposito ? Sendo lembrado por mim como uma falha sistêmica na minha comodidade humilhante e gorda? Acendes o meu cigarro e serais para mim uma lembrança boa do poder da minha oratória e prometo que se voce acender o meu cigarro te eternizarei num conto escrito pelas mesmas mãos que te riscou. conto este que escreverei mostrando o quanto tua existencia foi importante para mim sem precisar me frustrar dando assim um proposito bem maior a tua existência, a de causar reflexão, construo aqui, caro leitor, a minha mais interesante instituição: Eu e o fósforo.